Ligia

A Complexidade do Amor Não Correspondido em 'Lígia' de Tom Jobim

A música 'Lígia', composta por Tom Jobim, é uma delicada e complexa expressão dos sentimentos de um amor não correspondido, repleto de contradições e sentimentos não resolvidos. A letra revela um eu-lírico que nega veementemente seu interesse pela figura de Lígia, afirmando não sonhar com ela, não gostar das mesmas coisas que ela e até mesmo desligar o telefone ao tentar entrar em contato. Essas negações, no entanto, parecem ser uma tentativa de autoconvencimento, pois a intensidade com que ele se expressa sugere uma paixão reprimida.

O eu-lírico menciona lugares icônicos do Rio de Janeiro, como Ipanema, Copacabana e o Leblon, mas sempre em um contexto de desinteresse ou desdém. Essa aparente indiferença contrasta com a paixão da cidade e de sua música, o samba, sugerindo um isolamento emocional do protagonista. A repetição da frase 'não passou de ilusão' e o ato de rasgar o nome de Lígia são atos simbólicos de tentativa de esquecimento e superação, mas que, paradoxalmente, reforçam a presença dela em sua vida.

Por fim, a música termina com uma admissão de vulnerabilidade, onde o eu-lírico reconhece que se renderia aos 'braços serenos' de Lígia, apesar do medo que os 'olhos morenos' dela lhe causam. Esse medo pode ser interpretado como o receio de se entregar a um amor que parece fadado ao fracasso ou à não reciprocidade. 'Lígia' é, portanto, uma música que explora a complexidade dos sentimentos humanos, a dificuldade de lidar com a rejeição e a luta interna entre o desejo e o medo de se entregar ao amor.