Para Lennon e McCartney

A América do Sul de Milton Nascimento em 'Para Lennon e McCartney'

A canção 'Para Lennon e McCartney', composta por Fernando Brant, Márcio Borges e Lô Borges, e imortalizada na voz de Milton Nascimento, é uma obra que reflete sobre a identidade cultural sul-americana em contraste com a influência do mundo ocidental, especialmente a anglo-saxônica. A letra faz uma referência direta aos ícones da música pop britânica, John Lennon e Paul McCartney, dos Beatles, sugerindo uma espécie de diálogo ou mesmo um desabafo sobre a percepção e o valor da arte produzida fora dos grandes centros culturais da época.

A música começa com uma crítica ao 'lixo ocidental', uma possível alusão à massificação cultural e à imposição de padrões artísticos e de consumo provenientes do Ocidente. Milton Nascimento, representando a América do Sul, afirma que não há necessidade de temer ou se sentir só, pois 'todo dia é dia de viver'. Essa afirmação pode ser interpretada como um convite para valorizar a própria cultura e as experiências diárias, independentemente da influência externa. A repetição da frase 'Eu sou da América do Sul' reforça a identidade do artista e a riqueza cultural de sua origem.

A canção também brinca com a ideia de ser um 'cowboy', uma figura tipicamente associada ao imaginário norte-americano, mas aqui recontextualizada para representar a riqueza ('sou do ouro') e a universalidade ('sou do mundo') do artista sul-americano. Ao mesmo tempo, Milton Nascimento faz questão de enfatizar suas raízes em Minas Gerais, um estado brasileiro conhecido por sua rica tradição cultural e musical. 'Para Lennon e McCartney' é, portanto, um hino de afirmação cultural que desafia as noções de centralidade e periferia no mundo da música, celebrando a identidade sul-americana e a contribuição única que ela oferece ao cenário artístico global.